Primeiro post da viagem, e ele tem só três páginas! Iei!
Copenhague
De
Floripa a Copenhague, foram 22 horas de viagem. Pela primeira vez, me senti
cansado, parecia que a viagem nunca acabava. O avião transoceânico da Swiss
também era diferente dos que eu tinha pego antes. Nas laterais, eram fileiras
de dois bancos, não três. A parte boa é que era praticamente garantido que não
teria ninguém ao meu lado. A parte ruim foi tentar dormir. Nunca desejei tanto
ter um metro e meio de altura...
Nas
outras viagens, eu chegava no local perto das onze da manhã. Dava para chegar
no hotel, comer alguma coisa e morrer na cama cedo. Desta vez, foi apenas
quatro e vinte, em estado perfeitamente zombiático. Mais um tempo de trem do
aeroporto à estação central, pausa para o primeiro (de muitos!) McDonald's e
uma curta caminhada da estação até o hotel. Não era grande coisa, mas
suficiente para mim, e com uma localização privilegiada. Mudar a mala de lugar
toda vez que abria a porta e ter um chuveiro praticamente conjugado com a
privada são meros detalhes. Quase chorei de emoção ao ver um ventilador no
quarto, pois não tinha nada de nórdico no clima daquele sábado.
No fim,
fui dormir só lá pelas dez. Em vez acordar relativamente cedo após a
hibernação, com o relógio biológico em dia, só levantei às onze, ainda não
plenamente recuperado. Que estratégia melhor, então, do que passar o restante
do dia em um lugar só? Desci do hotel e literalmente na esquina estava o Museu
Nacional, com uma interessante coleção de material da história dinamarquesa. Com
destaque, logicamente, para os vikings (além das ricas exibições normais,
estava rolando uma mostra temporária sobre os bonitões, com o criativo nome
de... "Viking"). Então pude experimentar uma boa dose de cultura
nórdica, dos potes aos machados, passando pelos corpos mumificados da Idade do
Bronze encontrados nos pântanos.
Ao
estudar a história viking, é curioso ver como a fama estereotípica deles como
saqueadores de cidades e monastérios cristãos se refere a um período
relativamente curto da dita "Era Viking", mais ou menos entre 750-850
d.C. No restante do período (lá pelo fim do século XII) eles estavam mais
preocupados em explorar, colonizar e, claro, guerrear, mas de um modo mais
organizado, buscando a conquista efetiva, não só pilhar-matar-destruir. O
último século da dita era viu a progressiva cristianização dos nórdicos, e
formalmente se encerra quando o paganismo se encontrava virtualmente extinto e
os vikings já estavam completamente integrados na sociedade européia cristã
medieval.
Saí do
museu com seu fechamento. Os dinamarqueses não prezam tanto por horários
extensos, a maioria dos lugares turísticos abre às dez e fecha às cinco. Caminhei
um pouco pelas ruas, me assustando com os preços de tudo. Tá certo que a Europa
é cara, ainda mais com as cotações atuais, mas Copenhague é sacanagem. A coroa
dinamarquesa vale 40 centavos de real, mas é normal pagar 40 coroas por um café
num ponto turístico, ou duzentas por uma refeição razoável na rua, ou mesmo 14
por UMA barrinha de Snickers! Por isso vivi praticamente só de McDonald's, já
que, pelo menos nesse caso, o preço não difere tanto do Brasil (65 coroas por
um menu grande - é só escolher as saladas para não se sentir tão envenenado!).
Pude
dormir cedo para estar mais inteiro na segunda feira, o Dia Maldito dos Museus.
Aproveitando que muita coisa estaria fechada, fiz um dia biológico à base de zoológico
e aquário. No zoo cheguei dez e meia, pouco depois da abertura. Não era muito
grande nem tinha espécies muito diferentes, mas eu sempre me divirto nesses
lugares e, como já falei outras vezes, é diferente de ir num zoológico
brasileiro, pois você vê os bichos bem de perto. Nesse caso, tão perto que até
era possível alimentar as girafas. O destaque ficou por conta do
recém-inaugurado complexo dos ursos polares, onde vidros e um túnel subaquático
permitem ver os grandões por todos os ângulos, a centímetros de distância. Saí
relativamente cedo, às quatro, já que a jaula dos lobos estava fechada e não
pude gastar duas horas só contemplando eles.
O zoo
foi legal, mas dentro do normal. Diferente do Aquário Nacional, o melhor lugar
que visitei em Copenhague. Antes, para chegar na estação de metrô, cruzei um
grande e bonito parque, daqueles em que você entra e sente como se não
estivesse em uma cidade, e as pessoas se jogam na grama ou sob as árvores para
curtir o dia. Depois, atravessei a cidade para chegar no aquário, que fica lá
para os lados do aeroporto. Como ele funciona com horário estendido nas
segundas, estava cheio, mesmo às cinco da tarde, mas isso não atrapalhou muito.
É um baita centro construído no ano passado só para funcionar como aquário,
então eu esperava que fosse diferente daqueles que tinha visitado em
zoológicos, e não me decepcionei.
Os
vários ambientes aquáticos do mundo estão representados, como Amazônia, África,
recifes de coral e etc. Mas, sem dúvida, o que mais chama a atenção é o imenso
aquário oceânico, com uns sete metros de altura, com tubarões, meros, moréias e
cardumes inteiros de peixes menores. Além de um túnel que passa por dentro dele
e dá uma visão de 360°, um dos lados consiste em um paredão de vidro e uma
pequena arquibancada, na qual dá para sentar com uma cerveja e curtir os peixes
nadando. É como assistir no cinema aquele velho descanso de tela do Windows, só
que real. Fiquei duas horas e meia por lá e depois rumei direto ao hotel
(apenas com uma pausa para dar um oi ao palhaço Ronald).
Acabou
ficando para meu último dia aquilo que usualmente se faz primeiro: a andança
pela cidade para ver igrejas, prédios, parques e outros pontos de interesse.
Comecei, entretanto, por mais um museu, também na porta do hotel: a Ny
Carlsberg Glyptotek, que possui uma excelente coleção de estátuas e outros
artefatos de várias culturas da Antiguidade.Também coleções de quadros e
artistas mais modernos, mas não é minha praia, então nem cheguei a ver.
Depois
fui andar pelo centro. A cidade não é particularmente bonita, mas ainda é
pontuada por diversos prédios antigos, facilmente reconhecíveis pelo estilo de
tijolos vermelhos. O centro possui uma rede de ruas só para pedestres cercadas
de lojas e cafés, por onde uma galera transita e muitos artistas de rua se
exibem. Há igrejas em profusão, mas não me chamaram muito a atenção. Nenhuma
assombra pelo tamanho, e os interiores são no austero estilo protestante.
Quando visitei Munique, achei que a predominância de paredes brancas com pouca
decoração era um efeito da reconstrução pós-guerra, mas ali em Copenhague (que,
até onde sei, não foi intensamente bombardeada) a aparência é bem semelhante.
Exceção à regra é a Igreja de Mármore, construída para imitar o domo da
basílica de São Pedro. É bem parecido, mas basicamente só o domo, nem se
comparando em altura e tamanho total. Ao menos o interior é decorado e com
afrescos, bem diferente do tédio das outras.
Nas
minhas andanças ainda passei por alguns palácios e locais turísticos, mas só
para ver mesmo, pois não tinha tempo para conhecê-los por dentro. Não sei o
quão chamativos seriam também, pois alguns continuam a ser usados pelo governo
e realeza. Também atrapalhou o fato de que, após dois dias bonitos, a tarde
ficou chuvosa e com vento.
Durante
o passeio, também não pude deixar de entrar em uma loja de brinquedos, para
apreciar a rica coleção de Legos de todos os tipos. É claro que bateu aquela
vontade, já que há tempos estava querendo comprar um, por pura bobagem
nostálgica, mas os preços no Brasil são absurdamente caros. No fim da tarde,
quando voltei ao hotel, pesquisei na internet qual era a diferença real de
preço. Menos da metade do Brasil! Corri para a loja e peguei uma baita caixa do
Senhor dos Anéis. Não que tenha custado barato, e ficou apertado na mala, mas
ao menos me senti uma criança bem feliz!
Mesmo já
tendo gasto bastante em brinquedo, decidi, depois de tanto Big Mac, enfiar o pé
na jaca na última refeição e experimentar coisas tipicamente dinamarquesas.
Também ao lado do hotel havia um bom restaurante, e o primeiro prato que pedi
era descrito como "arenques preparados de três formas diferentes",
acompanhados de pão de centeio. Quando o prato chegou, achei que tinha voltado
a Blumenau e pedido três rollmops decorados. Mas havia apenas uma semelhança
superficial na aparência, pois o gosto era completamente diferente (dois eram
adocicados, o outro mais picante, nenhum deles com gosto de vinagre). Só que
era um pratinho miado, então tive que pedir outro: um legítimo smørrebrød (nada
mais que carnes e firulas montadas sobre uma fatia de pão) de enguia defumada.
O primeiro prato foi bom, o segundo foi delicioso. O próprio pão é diferente,
feito com grãos inteiros de centeio. Deve ser uma dureza para encarar todo dia,
mas caiu muito bem em uma refeição de turista. Claro que os viking fizeram sua pilhagem novamente, e gastei 320 coroas para sequer encher a barriga, mas valeu
a pena por ter experimentado coisas diferentes.
No outro
dia, apenas fui para a estação pegar o trem rápido para Hamburgo, numa viagem de quatro horas e meia que inclui
um trecho de 45 minutos de ferryboat para atravessar da Dinamarca à Alemanha.
Em Hamburgo, só fiquei de boa no excelente hotel, me preparando à Terra
Prometida no dia seguinte. Isso incluiu passar num mercado para comprar
suprimentos. Depois da Dinamarca, poder comprar um pacote com CINCO Snickers
por menos de dois Euros foi como ser o Bill Gates comprando alface na feira da
esquina.
Copenhague
não se destaca muito dentre os lugares onde já fui. Os dois museus e
zoo/aquário foram as partes que mais curti. Talvez se estivesse no meio da
viagem e já visto várias coisas, me chamariam menos a atenção (fora o aquário),
mas, de qualquer modo, gostei bastante. No dia a dia, lembra a Alemanha, no
modo como as coisas são feitas. E parece que todo mundo fala inglês, dos
moleques aos tiozões, então o "do you speak english?" nem é
necessário. Mas o maior problema é que é tudo muito caro, até para os padrões
europeus. A capital vale a visita, mas não creio que valha a pena fazer uma viagem mais longa por lá, pelo
que o país tem a oferecer.