quarta-feira, 31 de julho de 2013

Os saques vikings do século XXI

Primeiro post da viagem, e ele tem só três páginas! Iei!

Copenhague

               De Floripa a Copenhague, foram 22 horas de viagem. Pela primeira vez, me senti cansado, parecia que a viagem nunca acabava. O avião transoceânico da Swiss também era diferente dos que eu tinha pego antes. Nas laterais, eram fileiras de dois bancos, não três. A parte boa é que era praticamente garantido que não teria ninguém ao meu lado. A parte ruim foi tentar dormir. Nunca desejei tanto ter um metro e meio de altura...

               Nas outras viagens, eu chegava no local perto das onze da manhã. Dava para chegar no hotel, comer alguma coisa e morrer na cama cedo. Desta vez, foi apenas quatro e vinte, em estado perfeitamente zombiático. Mais um tempo de trem do aeroporto à estação central, pausa para o primeiro (de muitos!) McDonald's e uma curta caminhada da estação até o hotel. Não era grande coisa, mas suficiente para mim, e com uma localização privilegiada. Mudar a mala de lugar toda vez que abria a porta e ter um chuveiro praticamente conjugado com a privada são meros detalhes. Quase chorei de emoção ao ver um ventilador no quarto, pois não tinha nada de nórdico no clima daquele sábado.

               No fim, fui dormir só lá pelas dez. Em vez acordar relativamente cedo após a hibernação, com o relógio biológico em dia, só levantei às onze, ainda não plenamente recuperado. Que estratégia melhor, então, do que passar o restante do dia em um lugar só? Desci do hotel e literalmente na esquina estava o Museu Nacional, com uma interessante coleção de material da história dinamarquesa. Com destaque, logicamente, para os vikings (além das ricas exibições normais, estava rolando uma mostra temporária sobre os bonitões, com o criativo nome de... "Viking"). Então pude experimentar uma boa dose de cultura nórdica, dos potes aos machados, passando pelos corpos mumificados da Idade do Bronze encontrados nos pântanos.

               Ao estudar a história viking, é curioso ver como a fama estereotípica deles como saqueadores de cidades e monastérios cristãos se refere a um período relativamente curto da dita "Era Viking", mais ou menos entre 750-850 d.C. No restante do período (lá pelo fim do século XII) eles estavam mais preocupados em explorar, colonizar e, claro, guerrear, mas de um modo mais organizado, buscando a conquista efetiva, não só pilhar-matar-destruir. O último século da dita era viu a progressiva cristianização dos nórdicos, e formalmente se encerra quando o paganismo se encontrava virtualmente extinto e os vikings já estavam completamente integrados na sociedade européia cristã medieval.

               Saí do museu com seu fechamento. Os dinamarqueses não prezam tanto por horários extensos, a maioria dos lugares turísticos abre às dez e fecha às cinco. Caminhei um pouco pelas ruas, me assustando com os preços de tudo. Tá certo que a Europa é cara, ainda mais com as cotações atuais, mas Copenhague é sacanagem. A coroa dinamarquesa vale 40 centavos de real, mas é normal pagar 40 coroas por um café num ponto turístico, ou duzentas por uma refeição razoável na rua, ou mesmo 14 por UMA barrinha de Snickers! Por isso vivi praticamente só de McDonald's, já que, pelo menos nesse caso, o preço não difere tanto do Brasil (65 coroas por um menu grande - é só escolher as saladas para não se sentir tão envenenado!).
               Pude dormir cedo para estar mais inteiro na segunda feira, o Dia Maldito dos Museus. Aproveitando que muita coisa estaria fechada, fiz um dia biológico à base de zoológico e aquário. No zoo cheguei dez e meia, pouco depois da abertura. Não era muito grande nem tinha espécies muito diferentes, mas eu sempre me divirto nesses lugares e, como já falei outras vezes, é diferente de ir num zoológico brasileiro, pois você vê os bichos bem de perto. Nesse caso, tão perto que até era possível alimentar as girafas. O destaque ficou por conta do recém-inaugurado complexo dos ursos polares, onde vidros e um túnel subaquático permitem ver os grandões por todos os ângulos, a centímetros de distância. Saí relativamente cedo, às quatro, já que a jaula dos lobos estava fechada e não pude gastar duas horas só contemplando eles.

               O zoo foi legal, mas dentro do normal. Diferente do Aquário Nacional, o melhor lugar que visitei em Copenhague. Antes, para chegar na estação de metrô, cruzei um grande e bonito parque, daqueles em que você entra e sente como se não estivesse em uma cidade, e as pessoas se jogam na grama ou sob as árvores para curtir o dia. Depois, atravessei a cidade para chegar no aquário, que fica lá para os lados do aeroporto. Como ele funciona com horário estendido nas segundas, estava cheio, mesmo às cinco da tarde, mas isso não atrapalhou muito. É um baita centro construído no ano passado só para funcionar como aquário, então eu esperava que fosse diferente daqueles que tinha visitado em zoológicos, e não me decepcionei.

               Os vários ambientes aquáticos do mundo estão representados, como Amazônia, África, recifes de coral e etc. Mas, sem dúvida, o que mais chama a atenção é o imenso aquário oceânico, com uns sete metros de altura, com tubarões, meros, moréias e cardumes inteiros de peixes menores. Além de um túnel que passa por dentro dele e dá uma visão de 360°, um dos lados consiste em um paredão de vidro e uma pequena arquibancada, na qual dá para sentar com uma cerveja e curtir os peixes nadando. É como assistir no cinema aquele velho descanso de tela do Windows, só que real. Fiquei duas horas e meia por lá e depois rumei direto ao hotel (apenas com uma pausa para dar um oi ao palhaço Ronald).

               Acabou ficando para meu último dia aquilo que usualmente se faz primeiro: a andança pela cidade para ver igrejas, prédios, parques e outros pontos de interesse. Comecei, entretanto, por mais um museu, também na porta do hotel: a Ny Carlsberg Glyptotek, que possui uma excelente coleção de estátuas e outros artefatos de várias culturas da Antiguidade.Também coleções de quadros e artistas mais modernos, mas não é minha praia, então nem cheguei a ver.

               Depois fui andar pelo centro. A cidade não é particularmente bonita, mas ainda é pontuada por diversos prédios antigos, facilmente reconhecíveis pelo estilo de tijolos vermelhos. O centro possui uma rede de ruas só para pedestres cercadas de lojas e cafés, por onde uma galera transita e muitos artistas de rua se exibem. Há igrejas em profusão, mas não me chamaram muito a atenção. Nenhuma assombra pelo tamanho, e os interiores são no austero estilo protestante. Quando visitei Munique, achei que a predominância de paredes brancas com pouca decoração era um efeito da reconstrução pós-guerra, mas ali em Copenhague (que, até onde sei, não foi intensamente bombardeada) a aparência é bem semelhante. Exceção à regra é a Igreja de Mármore, construída para imitar o domo da basílica de São Pedro. É bem parecido, mas basicamente só o domo, nem se comparando em altura e tamanho total. Ao menos o interior é decorado e com afrescos, bem diferente do tédio das outras.

               Nas minhas andanças ainda passei por alguns palácios e locais turísticos, mas só para ver mesmo, pois não tinha tempo para conhecê-los por dentro. Não sei o quão chamativos seriam também, pois alguns continuam a ser usados pelo governo e realeza. Também atrapalhou o fato de que, após dois dias bonitos, a tarde ficou chuvosa e com vento.

               Durante o passeio, também não pude deixar de entrar em uma loja de brinquedos, para apreciar a rica coleção de Legos de todos os tipos. É claro que bateu aquela vontade, já que há tempos estava querendo comprar um, por pura bobagem nostálgica, mas os preços no Brasil são absurdamente caros. No fim da tarde, quando voltei ao hotel, pesquisei na internet qual era a diferença real de preço. Menos da metade do Brasil! Corri para a loja e peguei uma baita caixa do Senhor dos Anéis. Não que tenha custado barato, e ficou apertado na mala, mas ao menos me senti uma criança bem feliz!

               Mesmo já tendo gasto bastante em brinquedo, decidi, depois de tanto Big Mac, enfiar o pé na jaca na última refeição e experimentar coisas tipicamente dinamarquesas. Também ao lado do hotel havia um bom restaurante, e o primeiro prato que pedi era descrito como "arenques preparados de três formas diferentes", acompanhados de pão de centeio. Quando o prato chegou, achei que tinha voltado a Blumenau e pedido três rollmops decorados. Mas havia apenas uma semelhança superficial na aparência, pois o gosto era completamente diferente (dois eram adocicados, o outro mais picante, nenhum deles com gosto de vinagre). Só que era um pratinho miado, então tive que pedir outro: um legítimo smørrebrød (nada mais que carnes e firulas montadas sobre uma fatia de pão) de enguia defumada. O primeiro prato foi bom, o segundo foi delicioso. O próprio pão é diferente, feito com grãos inteiros de centeio. Deve ser uma dureza para encarar todo dia, mas caiu muito bem em uma refeição de turista. Claro que os viking fizeram sua pilhagem novamente, e gastei 320 coroas para sequer encher a barriga, mas valeu a pena por ter experimentado coisas diferentes.

               No outro dia, apenas fui para a estação pegar o trem rápido para Hamburgo,  numa viagem de quatro horas e meia que inclui um trecho de 45 minutos de ferryboat para atravessar da Dinamarca à Alemanha. Em Hamburgo, só fiquei de boa no excelente hotel, me preparando à Terra Prometida no dia seguinte. Isso incluiu passar num mercado para comprar suprimentos. Depois da Dinamarca, poder comprar um pacote com CINCO Snickers por menos de dois Euros foi como ser o Bill Gates comprando alface na feira da esquina.


               Copenhague não se destaca muito dentre os lugares onde já fui. Os dois museus e zoo/aquário foram as partes que mais curti. Talvez se estivesse no meio da viagem e já visto várias coisas, me chamariam menos a atenção (fora o aquário), mas, de qualquer modo, gostei bastante. No dia a dia, lembra a Alemanha, no modo como as coisas são feitas. E parece que todo mundo fala inglês, dos moleques aos tiozões, então o "do you speak english?" nem é necessário. Mas o maior problema é que é tudo muito caro, até para os padrões europeus. A capital vale a visita, mas não creio que valha a pena fazer uma viagem mais longa por lá, pelo que o país tem a oferecer.

quarta-feira, 24 de julho de 2013

Fefeleco’s trip parte III: o confronto final

Como em uma trilogia de cinema, chega no inverno o último capítulo da saga de viagens do Félix na Europa. Não, não quer dizer que eu jamais voltarei a enfrentar o olhar sisudo dos alemães ou mergulhar no azul do Egeu. Muito pelo contrário, pois existe a possibilidade de, já no ano que vem ir, para a terra dos ancestrais morar uns bons anos, com o doutorado como descul... uhm, “motivação”.

Entretanto, em matéria de grandes viagens turísticas, vou dar uma sossegada. Há muitos outros lugares a serem desbravados, e outros pontos nos quais investir tempo e recursos. Sim, viajar é um dos melhores investimentos possíveis, e tenho que agradecer aos deuses por ter conseguido fazer tanto em tão pouco tempo. Mas nem salário de servidor público com vida de estudante agüenta uma dessas todo ano. Mesmo porque, assim como o retorno de um rei, a vingança de um Sith ou uma última cruzada, esta terceira parte contará com o maior orçamento da série. Espero que siga o exemplo e seja, também, a melhor de todas!

Não é só a disparada absurda das cotações nos últimos meses a causa do prejuízo, mas também escolhi, inconscientemente, locais naturalmente caros. Menos mal, pois significa que pesariam no bolso em qualquer situação, não só agora. O negócio é ir com bolso cheio, cartão de crédito liberado e um sorriso na cara, para aproveitar ao máximo a nova jornada.

E qual o mapa da aventura? Também sem muito perceber, montei neste ano um roteiro bem viking, uma das culturas mais fascinantes do Velho Mundo, tanto por sua história inicial de paganismo e terror nos corações cristãos medievais, quanto pelo seu momento posterior de desbravamento de novas terras, chegando tão longe quanto a América séculos antes de qualquer português esticar o pescoço além da costa européia.

Tudo começa na ponte aérea Floripa-Copenhague. A Dinamarca foi escolha fácil, considerando a proximidade com o Wacken e o fato de ser o lugar menos frio para conhecer legítimas terras vikings. Ficarei quatro noites lá, com tempo para bate-e-volta em alguma cidade de interesse próxima. Neste ano, preferi fazer assim: estabelecer uma base na capital e ficar mais livre para explorar as redondezas como quiser, sem cronogramas fechados e reservas de uma noite em mil hotéis.

Depois, desço de trem para Hamburgo em um dia, só para ir ao Wacken no outro. Este ano é, talvez, o melhor de todos os três em matérias de bandas que curto, então espero que o clima colabore! Depois do festival, volto a Hamburgo por duas noites, usando o tempo para me recuperar da quebradreira e, talvez, visitar um local que deixei para trás no ano passado. E é só de Alemanha por este ano. Deixo novos passeios para um futuro quem sabe próximo.

De Hamburgo, voarei para a maior cidade européia, que, graças às Olimpíadas, deixei para trás no ano passado. Terei nada menos que seis noites em Londres, para conhecer os fantásticos museus e relíquias medievais da cidade, além de explorar as redondezas. Sim, faltará tempo em uma cidade tão cheia de coisas, mas será legal poder passar um dia todo num museu ou no zoológico, sem pressa e preocupação.

Em seguida, atravesso meia Inglaterra de trem para chegar ao segundo destino viking da viagem: York. Ali serão duas noites, apenas para ter um dia completo na mais importante colônia nórdica na Grã-Bretanha. Convenientemente calculado, o litoral oeste do país fica relativamente perto, para onde irei pegar um ferryboat em direção a outra importantíssima cidade fundada pelos barbudos: Dublin. Serão cinco noites e, provavelmente, gastarei alguns dias fazendo passeios a outros pontos da Irlanda, país pequeno que permite esse luxo.

Daí entro na última etapa da viagem, virando tudo de pernas para o ar. Atravesso o continente inteiro para sair do verão com cara de outono do norte da Europa para mergulhar novamente no magnífico verão mediterrâneo. Afinal, eu jamais viajaria para a Europa sem visitar meu país do coração novamente (sim, já tou cheio de intimidade!). E é para a Grécia que volto mais uma vez, para conhecer lugares diferentes. O primeiro, Égina, é uma ilha bem próxima de Atenas e fácil de chegar, com algumas coisas interessantes para ver. Depois de duas noites lá e uma num hotel ao lado do porto de Atenas (por questões de logística), pego um ferry para meu destino final, Míconos, a mais badalada ilha da Grécia. Não é o agito que procuro lá, e sim a vizinha Delos, uma ilhota-sítio arqueológico dentre os mais importantes da Grécia antiga. Mas, em fim de viagem e com quatro noites em Míconos, tudo o que vou querer também é apenas relaxar e curtir as praias e paisagens, antes de retornar ao inverno meridional.

Então é isso. Com uma câmera na mão e milhares de páginas de História na cabeça, é hora de começar a diversão. Não perca a estréia, nesta sexta feira, e atualizações periódicas em um blog e Facebook pertinho de você!